Por Mariana Pires
Você fica com fome, abre a geladeira e pega um iogurte. Depois de comer, coloca a colher na pia e o pote no lixo. Mais tarde, você coloca o saco de lixo na lixeira e, no dia seguinte, ele - magicamente - não está mais lá. Para onde ele foi? Por quais processos ele passa? Esse material será reciclado ou irá para um aterro sanitário? Infelizmente, essas não são perguntas costumeiramente feitas pelos brasileiros, pois os problemas ambientais decorrentes dessa excessiva produção e da ainda escassa separação dos materiais recicláveis são constantes nas gestões públicas ao redor do Brasil. Na cidade de São Paulo, por exemplo, cada morador produz cerca de 1 quilo de resíduos sólidos por dia, mas pouco desse lixo é separado corretamente.
E por que o cidadão parece não se importar com a reciclagem? Por que limpamos as nossas casas, mas sujamos a nossa cidade - um bem de todos? A responsabilidade desse problema parece não ser somente do governo, ela está intrinsecamente ligada à nossa conduta em casa. “Por exemplo, se o seu lixo fosse enterrado no jardim do condomínio em que você mora, quanto tempo aquele espaço daria conta de armazenar os rejeitos? Nós temos uma barbaridade de lixo, montanhas e montanhas, mas como está fora da nossa vista, pois vão para os aterros, isso acaba não tendo importância”, alerta Ana Maria Domingues Luz, especialista engajada na implantação de programas voltados à preservação do meio ambiente e presidente do Instituto Gea - Ética e Meio Ambiente.
O maior desafio da coleta seletiva em São Paulo ainda é a falta de adesão dos municípios. E além de muitos não saberem a importância ambiental e social da separação de resíduos, existem pessoas que acreditam que esse esforço será em vão, pois todo o lixo será levado ao aterro sanitário no final. Essa crença, porém, é errônea, embora esse possa ser um dos destinos do nosso lixo. Para explicar o caminho que os nossos resíduos percorrem na maior cidade do Brasil, então, falaremos dos seus três possíveis destinos finais: o aterro sanitário, o descarte incorreto e as recicladoras.
Para simplificar a descrição, vamos usar o exemplo do começo do texto. Se você colocou o pote de iogurte na sua lixeira regular, ele provavelmente irá para um aterro sanitário. Isso porque esse lixo será coletado pelo serviço de coleta domiciliar, presente em toda a cidade e que recolhe todo lixo produzido na sua casa e que não pode ser reaproveitado. Essa atitude provoca tanto prejuízos ambientais - visto que, ao se decomporem, os resíduos sofrem processos químicos que emitem gás carbônico, metano e outros gases que contribuem para o efeito estufa - quanto financeiros, uma vez que resíduos recicláveis podem retornar à produção e se tornarem matéria prima para diversas indústrias.
Agora, se você estava com pressa e precisou sair de casa, mas não teve tempo de colocar seu pote na lixeira e jogou ele na rua, seu lixo corre o risco de ir parar em algum bueiro e, juntamente com muitos outros materiais descartados incorretamente, poderá causar enchentes e alagamentos. De acordo com o site Recicla Sampa, o lixo é o principal causador de alagamentos na capital de São Paulo, pois ao entupir as bocas de lobo e tubulações destinadas para a drenagem da água da chuva, essa não consegue transitar e fica acumulada na rua. Essa atitude, além de egoísta, pode intensificar o trânsito na cidade e, inclusive, causar sérios acidentes. O entupimento de sistemas de drenagem pluvial também pode causar alagamentos em áreas residenciais da cidade, especialmente em locais de maior vulnerabilidade social. Além disso, ele pode parar nos oceanos, poluindo praias e mares, afetando espécies marinhas e causando prejuízos aos governos, que precisam arcar com os custos de limpeza.
Em suma, se você joga o seu lixo na rua, alguém irá se prejudicar. E se ele conseguir ser colhido antes de ter consequências mais graves, é graças aos garis, profissionais que têm um papel essencial na gestão do lixo nas cidades. Mas apesar de seu trabalho fundamental, eles ainda enfrentam muitos estigmas - muitos têm preconceito com esses trabalhadores por eles trabalharem principalmente com a manipulação do lixo - e dificuldades, como os riscos de atropelamento, quedas e acidentes provocados pelo manuseio dos resíduos. Para a equipe de coletores que trabalha nos caminhões de lixo, há ainda os problemas envolvendo a falta de compreensão da população, que muitas vezes vê os veículos e seus trabalhadores como “inconvenientes” e que “atrapalham o trânsito”.
Porém, se você separa os seus resíduos em duas categorias - orgânicos e recicláveis - e leva a sua reciclagem a um ponto de coleta, seu pote poderá ser reciclado. Dependendo de onde mora, inclusive, sua rua pode estar na rota de algum caminhão de coleta seletiva - serviço destinado aos lixos recicláveis - e basta você saber o dia que ele passa para deixar o saco de lixo na frente de casa. Vale lembrar que os recursos naturais são escassos e a capacidade de suporte do meio ambiente é limitada. “Os resíduos sólidos são recursos que devem ser reinseridos na economia”, argumenta Viviana Zanta, especialista em resíduos sólidos e professora do departamento ambiental da Universidade Federal da Bahia.
Reciclar, portanto, é um ato de empatia com o meio ambiente, com a cidade e com todos os seus cidadãos. É mais que um simples dever de todos, é um ato político que deve ser praticado e cobrado: a prefeitura está ampliando a coleta para que todo o município seja contemplado na coleta seletiva? As escolas estão ensinando sobre a importância da reciclagem? Seu condomínio e seus vizinhos se preocupam em fazer a separação de rejeitos? Para evitarmos a catástrofe iminente do planeta provocada pela lógica de produção consumista do capitalismo, precisamos agir - e agora. Por isso, faça a sua parte, faça reciclagem!
Para mais informações sobre pontos de coleta, materiais recicláveis e resíduos comuns, além de muitos outros conteúdos sobre o assunto, acesse: https://www.reciclasampa.com.br/
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